Por G1
Eventos climáticos extremos causaram prejuízos públicos de R$ 724 milhões em Santa Catarina na última década. É o que mostra levantamento apresentado ao g1 pela Codex, empresa que analisa dados sobre mudanças climáticas e governança.
As informações foram retiradas da Plataforma Nacional de Desastres (S2iD), que pertence ao governo federal e reúne registros de todo o Brasil. Os prejuízos listados entre 2015 e 2024 tratam de danos às áreas e serviços sob responsabilidade do poder público, como pontes, tubulações ou sistemas de energia (entenda mais abaixo).
- Entre os eventos analisados pela Codex em Santa Catarina, o maior impacto foi o das chuvas intensas, que acumulou R$ 565,8 milhões em prejuízos em dez anos. Veja abaixo:
- Chuvas intensas: R$ 565,8 milhões em prejuízos, com 452 emergências registradas;
- Tempestades: R$ 54,6 milhões, com 300 emergências;
- Inundações e alagamentos: R$ 45 milhões, com 83 emergências;
- Estiagem: R$ 33,8 milhões, com 400 emergências;
- Deslizamentos: R$ 25,2 milhões, com 7 emergências.
No Brasil, os prejuízos aos cofres públicos estaduais somam R$ 61 bilhões em 10 anos, segundo a Codex. Santa Catarina ocupa a 12ª posição no ranking e os estados com maiores prejuízos são: Paraíba (R$ 26,8 bilhões), São Paulo (R$ 11 bilhões), Pernambuco (R$ 4,8 bilhões).
🌪️ Os dados convergem com o histórico do estado, que é frequentemente afetado por enchentes, deslizamentos e outros eventos climáticos extremos, segundo a Defesa Civil estadual. Em 2020, por exemplo, parte do Vale do Itajaí foi devastada por chuvas intensas. Além dos danos públicos e privados, 21 pessoas morreram.
Três anos depois, em 2023, Santa Catarina registrava ao menos 180 cidades em situação de emergência por chuvas, inundações, alagamentos e estiagem. Com 295 municípios, o número representou 61% do território catarinense.
Para tentar mitigar as devastações, a Defesa Civil catarinense afirma que desenvolveu o Programa Proteção Levada a Sério, considerado pela administração a maior iniciativa de prevenção de desastres do estado. Serão 26 obras planejadas, sendo 25 na região do Vale do Itajaí, e uma no Sul..
“O programa contempla um conjunto robusto de ações, estudos, projetos e obras estruturantes e não estruturantes, com foco na proteção da população e na redução dos riscos de desastres”, cita o órgão (leia mais abaixo sobre o programa).
Conduta
Professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Paulo Horta acompanha o cenário sobre mudanças climáticas e defende ser necessário um grande diagnóstico sobre os desastres naturais do estado para dialogar com a sociedade.
“A partir destes dados e dos diálogos, encontrarmos as soluções que sejam regenerativas respeitando a capacidade suporte dos territórios e ecossistema. Uma gestão fundamentada na prevenção e precaução, em uma ética do cuidado, é mandatório, inclusive considerando o necessário zelo com a vida e com o erário.”
Para o professor, o enfrentamento da crise climática deve priorizar a adaptação para os setores mais vulneráveis da sociedade, garantindo moradia segura e saudável, mobilidade diversificada e resiliente, e planos de emergência e contingência.
“Essas são as bases de uma sociedade fundada em economia regenerativa e distributiva, arranjo fundamental para enfrentarmos a emergência”, pontuou.
Programa em SC
Divulgado em maio deste ano, o Programa Proteção Levada a Sério pervê investimento de R$ 351 milhões até 2026, segundo o governo estadual.
Nesta etapa, são feitas obras de melhoramento fluvial, manutenção de estruturas existentes e ampliação do monitoramento meteorológico. Além disso, a iniciativa quer construir três novas barragens, ainda em fase de licitação. São elas:
- Barragem Botuverá, no Rio Itajaí-Mirim: investimento de mais de R$ 156 milhões;
- Barragem Mirim Doce, no Rio Taió: R$ 93 milhões;
- Barragem Petrolândia, no Rio Perimbó, com investimento superior a R$ 51 milhões.
O programa também se preocupa com os efeitos da estiagem e prevê investimentos no fornecimento de água para os municípios, por meio de caminhões-pipa, reservatórios e transporte, com recursos de aproximadamente R$ 3 milhões destinados à finalidade.
Íntegra da nota
“Santa Catarina enfrenta, nos últimos anos, eventos climáticos cada vez mais severos, que têm causado impactos significativos na vida da população e na infraestrutura pública. Segundo dados da Plataforma Nacional de Informações de Desastres (S2iD), os danos públicos registrados no estado, sendo as chuvas intensas as principais responsáveis por alagamentos, deslizamentos, enxurradas e outros desastres.
Diante desse cenário, o Governo do Estado, por meio da Secretaria da Proteção e Defesa Civil, desenvolveu nessa gestão o Programa Proteção Levada a Sério, considerado o maior programa de prevenção e mitigação de desastres da história de Santa Catarina. O programa contempla um conjunto robusto de ações, estudos, projetos e obras estruturantes e não estruturantes, com foco na proteção da população e na redução dos riscos de desastres.
O programa foi pensado para atuar de forma estratégica, combinando obras físicas, modernização tecnológica e fortalecimento da gestão de riscos e desastres. No total, são 26 obras planejadas, sendo 25 no Vale do Itajaí e uma na região de Tubarão. Além dessas intervenções, estão sendo desenvolvidos estudos e projetos de mitigação para outras regiões do estado.
Entre os principais objetivos do programa estão o desenvolvimento de soluções inovadoras para reduzir riscos de inundações, a proteção de vidas e patrimônios, o fortalecimento da capacidade de resposta do estado em situações de emergência e calamidade pública, além do apoio aos municípios na identificação e monitoramento de áreas de risco. O programa também prioriza a implementação de soluções tecnológicas para prevenção e controle de enchentes e a disseminação da cultura de prevenção de desastres na sociedade, promovendo uma gestão pública mais eficiente e preparada.
Na primeira etapa, o programa conta com um investimento de R$ 351 milhões até 2026, destinado à execução de melhoramentos fluviais, construção de barragens, manutenção de estruturas existentes, modernização dos Centros Integrados de Gerenciamento de Riscos e Desastres (CIGERDs) e ampliação do monitoramento meteorológico no estado. As ações de melhoramento fluvial incluem desassoreamento de rios, limpeza de margens, remoção de ilhas, derrocamento e canalização, com obras já concluídas, em andamento ou em processo de licitação em diversos municípios como Rio do Sul, Taió, Rio do Oeste, Blumenau, Gaspar, Indaial, Timbó, Lontras, Agronômica e Laurentino.
O programa também prevê a construção de três novas barragens de contenção de cheias: a Barragem Botuverá, no Rio Itajaí-Mirim, com investimento de mais de R$ 156 milhões; a Barragem Mirim Doce, no Rio Taió, no valor de R$ 93 milhões; e a Barragem Petrolândia, no Rio Perimbó, com investimento superior a R$ 51 milhões. Todas essas obras estão em fase de licitação.
Outro eixo de atuação do programa é a manutenção, modernização e automação das barragens já existentes, como as barragens Oeste, em Taió, e Sul, em Ituporanga, que passam por obras de recuperação dos sistemas operacionais, além da Barragem de José Boiteux, que recebe serviços de manutenção emergencial e terá sua reforma geral iniciada nos próximos meses, com investimento estimado em aproximadamente R$ 11 milhões.
Além das obras físicas, o programa contempla a reforma de 20 CIGERDs, com melhorias estruturais, civis e elétricas, expansão da rede de estações meteorológicas, aumento em mais de 30% da equipe de meteorologistas, além da modernização dos sistemas de alerta, que passam a contar com tecnologia de cell broadcast, campanhas educativas e informativas, e novas ferramentas para monitoramento em tempo real.
Além das obras estruturantes, o programa também prevê investimentos diretos no fortalecimento da infraestrutura dos municípios. Estão destinados R$ 15 milhões para a aquisição de kits de transposição, que são estruturas utilizadas para a instalação rápida de pontes em locais onde a travessia foi comprometida por desastres. Esses kits garantem mais agilidade na resposta às situações de emergência, além de oferecer uma solução prática e segura para restabelecer o acesso das comunidades afetadas, especialmente em áreas rurais e regiões isoladas.
O Programa Proteção Levada a Sério também se preocupa com os efeitos da estiagem e prevê investimentos no fornecimento de água para os municípios, por meio de caminhões-pipa, reservatórios e transporte de água, com recursos de aproximadamente R$ 3 milhões destinados a essa finalidade.
Na segunda etapa, que complementa o planejamento, o investimento sobe para um total de R$ 5 bilhões nos próximos anos, contemplando a construção de mais cinco barragens de contenção de cheias — Barragem Braço do Trombudo, Pouso Redondo I e II, Serra Velha e Serra dos Alves — além da expansão dos melhoramentos fluviais nas bacias do Alto Vale, Médio Vale, Foz do Rio Itajaí e também na região de Tubarão. Esta etapa inclui ainda a realização de estudos e projetos para mitigação de desastres em todo o território catarinense.
Com esse conjunto de ações, Santa Catarina passa a viver um novo momento na gestão de riscos e desastres. O Programa Proteção Levada a Sério representa uma mudança de paradigma, que prioriza a prevenção, a proteção da vida, a preservação do patrimônio e o fortalecimento da resiliência das cidades. Com planejamento, tecnologia e obras concretas, o estado se prepara para enfrentar os desafios climáticos e garantir mais segurança para a população”.