sexta-feira, 27 de junho de 2025

Estudo inédito do Corpo de Bombeiros de MS sobre intoxicação por monóxido de carbono ganha destaque em Seminário Nacional sobre Prevenção e Combate a Incêndios Florestais

Por CBMMS

Brasília (DF) – A atuação do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS) mais uma vez se destacou no cenário nacional por aliar inovação científica à prática operacional. A Unidade de Resgate e Suporte Avançado (URSA), criada para oferecer suporte médico a ocorrências de alta complexidade, vem se consolidando como referência na formação e capacitação de profissionais da área. O mais recente reconhecimento veio com a apresentação de uma pesquisa inédita sobre intoxicação por monóxido de carbono (CO) em combatentes florestais, durante o 1º Seminário Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (SNPCIF), promovido pelo CBMDF, em Brasília.

O estudo científico foi conduzido pelos Tenentes-médicos Rodolfo Vagner Xaubet e Pietra Zorzo, ambos do CBMMS, e traz dados inéditos sobre a exposição ao CO durante o combate a incêndios florestais — realidade cada vez mais frequente no Brasil.

A pesquisa analisou 12 bombeiros-alunos durante atividades práticas do curso de combate a incêndios, com medições feitas antes e depois dos turnos de trabalho, por meio de um oxímetro portátil de alta precisão.

Exposição invisível e riscos reais

O monóxido de carbono é um gás inodoro, altamente tóxico e considerado a principal causa de mortes por intoxicação inalatória no mundo. A pesquisa revelou que todos os militares avaliados apresentaram níveis detectáveis de carboxiemoglobinemia — substância que resulta da ligação entre o CO e a hemoglobina — variando de 2% a 12%. A intoxicação, segundo os pesquisadores, tende a se acumular ao longo dos turnos operacionais.

“A partir de 12%, já existem relatos de lesões cardíacas em outros estudos. E mesmo valores considerados baixos já indicam que o organismo está em situação de estresse”, explica o Tenente Rodolfo Xaubet.

Ele acrescenta que a exposição silenciosa ao gás pode gerar consequências fisiológicas graves. “O corpo tenta compensar a falta de oxigênio aumentando a frequência cardíaca e respiratória, mas isso, por si só, aumenta a ventilação e, com ela, a absorção do próprio monóxido de carbono.”

Esse ciclo fisiológico, conforme destacado pelos autores, pode levar a um desbalanço entre a oferta e o consumo de oxigênio pelos tecidos, especialmente o coração. Frequências cardíacas acima de 150 bpm podem reduzir o tempo de enchimento das artérias coronárias, elevando o risco de arritmias e até de eventos cardiovasculares agudos.

Monitoramento e prevenção

Um dos principais méritos do estudo é propor uma alternativa não invasiva e de baixo custo para monitoramento em tempo real da intoxicação, utilizando tecnologias já disponíveis. O uso do oxímetro Rad-57® permitiu aferições rápidas e com margem de erro mínima em relação à gasometria arterial, considerada padrão-ouro em ambiente hospitalar.

Tenente Pietra Zorzo, coautora da pesquisa, reforçou durante o evento a necessidade de disseminar essas práticas em outras corporações, destacando que a URSA já vem sendo procurada por outros estados interessados em replicar o modelo. Ela também salientou que, com a valorização da saúde ocupacional do bombeiro, a corporação eleva seus padrões de atuação em campo e protege seu maior ativo: o efetivo humano.

Segundo ela, os resultados da pesquisa reforçam a importância de protocolos mais rígidos de rodízio, descanso e uso de equipamentos de proteção respiratória durante o combate a incêndios. “Hoje somos referência nacional, porque outras corporações vêm até nós pedindo informações sobre o serviço, sobre como foi criado, sobre todo o funcionamento”, afirmou.

Implicações práticas

Os dados evidenciam a necessidade de:

  • Monitoramento sistemático e não invasivo da intoxicação por CO durante os turnos operacionais.
  • Revisão de protocolos de descanso e rodízio de efetivo, especialmente em ambientes com alta carga de fumaça.
  • Sensibilização fisiológica dos profissionais para compreender os sinais precoces da intoxicação e os riscos cardiológicos associados.

Avanço científico e valorização da tropa

Além de seu ineditismo, o estudo contribui de forma relevante para a literatura da medicina de emergência e saúde ocupacional militar, ao abordar um risco pouco estudado no Brasil. A exposição progressiva ao CO não é percebida de forma imediata, mas pode comprometer o desempenho do militar, afetar sua saúde a longo prazo e, em casos extremos, levar à morte súbita — como já registrado em episódios recentes no país.

A expectativa dos pesquisadores é que os dados possam subsidiar novas diretrizes operacionais e campanhas internas de conscientização. “Estamos apenas começando. Nosso objetivo é ampliar esse estudo com mais participantes e em diferentes cenários operacionais, para que o Corpo de Bombeiros possa tomar decisões baseadas em evidência científica”, afirmou Xaubet.

Reconhecimento e futuro

A apresentação da pesquisa no SNPCIF, evento que reuniu especialistas de todo o país, marcou não apenas o reconhecimento do trabalho desenvolvido no Mato Grosso do Sul, mas também a consolidação de um modelo que alia ciência aplicada à realidade operacional do Corpo de Bombeiros. O estudo reforça a credibilidade da URSA como centro de referência nacional e evidencia o papel estratégico da Diretoria de Saúde do CBMMS na produção de conhecimento técnico voltado à segurança e saúde dos militares.

Para o coronel Cezar, diretor da Diretoria de Saúde, a qual coordena os serviços da URSA, o trabalho simboliza um novo patamar para a corporação. “Mais do que um avanço técnico-científico, essa pesquisa demonstra nosso compromisso permanente com a proteção da tropa, o aperfeiçoamento dos protocolos de resposta e a construção de soluções baseadas em evidência para os desafios do serviço operacional”, afirmou.

Artigos relacionados

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui