
O coronel Sérgio Simões assumiu a mais antiga e uma das mais representativas corporações do país em momento delicado. Movimentações da categoria por melhores condições de salário ultrapassaram os limites da negociação pacífica e marcaram a corporação carioca que enfrentou um cenário de guerra com depredações e ameaças de greve nunca vistas na história do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.
Para o coronel, os debates foram além da simples luta salarial e atingiram os interesses políticos. O saldo foi a exclusão de militares da corporação e uma sensação desconfortável para o líder atual dos bombeiros no Rio. “Não é uma situação agradável, muito pelo contrário, é uma situação que mexe com os meus sentimentos de quem já vive há 34 anos nesta corporação e nunca viu nada parecido”, desabafa o comandante.
No mesmo dia em que concedeu uma coletiva à imprensa sobre a expulsão de 13 bombeiros, coronel Sérgio falou com exclusividade à Emergência sobre os detalhes de toda a trajetória do movimento e ainda sobre os procedimentos operacionais diante das ocorrências recentes, como o desabamento de prédios no centro do Rio, e a preparação para grandes eventos.
Revista Emergência: O senhor assumiu a corporação no ano passado num momento complicado. Recentemente, houve movimentações novamente. Como foi e está sendo administrar esta questão?
Sérgio Simões: É uma situação muito delicada, mas é impossível para um oficial de carreira recusar um convite para comandar uma corporação como esta. O governador Sérgio Cabral me chamou para uma reunião, fez o convite e eu me senti com a obrigação moral de aceitar. Não que eu tivesse receio de assumir o desafio, mas o que mais me preocupava era a condição em que meu colega antecessor, coronel Pedro Cruz, saía do comando e isto eu manifestei para o governador.
Ele conversou muito detidamente comigo sobre este aspecto, mas me fazendo ver que o cenário era de tamanha complexidade que já não havia possibilidade da continuidade do coronel Pedro, que é um dos profissionais mais brilhantes da corporação, reconhecido, homem de tropa e que merece o nosso respeito. Então, o meu cuidado foi especificamente em relação a este ponto que, uma vez esclarecido, inicialmente pelo governador e depois numa conversa pessoal minha com o coronel Pedro, me senti muito seguro para assumir o comando. No entanto, a situação fugiu ao convencional em função da maneira como as coisas se deram.
Levando em consideração a complexidade do problema eu diria que este processo se divide em três partes. Primeiro: a causa era legítima. Embora já estivesse em andamento um programa de recomposição salarial que em nenhum dos outros governos anteriores havia sido elaborado, a sequência desta recomposição, mês a mês, causava uma expectativa ruim em razão da grande defasagem. Em junho do ano passado, o piso era da ordem de R$ 1.100,00. Hoje, temos 54 soldados sem triênio recebendo R$ 2.119,00 e 700 soldados com triênio ganhando R$ 2.286,00.
Confira a entrevista completa na edição 37 da Revista Emergência.
Por Alexandre Gusmão
Foto: Alexandre Gusmão