Transporte pré-hospitalar enfrenta desafios diários como superlotação dos serviços, rodovias deficientes, longas distâncias e a alta demanda de remoções interunidades
Por Paula Barcellos/Editora e Jornalista da Revista Emergência
No ano passado, o governo federal anunciou a ampliação de investimentos na área da saúde com o novo PAC (Programa de Aceleração de Crescimento). Entre eles está a universalização do SAMU, com objetivo de cobertura de até 97% do Brasil, em até quatro anos. Alguns estados como o Rio de Janeiro, por exemplo, estão com o projeto SAMU 100% RJ, da SES-RJ (Secretaria Estadual da Saúde), que tem objetivo de levar o serviço a todas as cidades do Rio de Janeiro, ampliando o número de bases descentralizadas. Segundo dados do Ministério da Saúde, já em 2023, a cobertura do SAMU 192 teve uma expansão grande no território nacional, com 10 UF com cobertura total e 17 UF parcial.
Embora haja boas perspectivas de crescimento do SAMU é preciso ter em mente que não basta só alcançar todos os cantos do país. É necessário que este alcance tenha qualidade no atendimento e nisso estão incluídas as questões relativas ao transporte no APH. Qual a realidade desse transporte atualmente? Quais são os desafios que prejudicam a sua operacionalização? Veremos isso nessa reportagem.
A superlotação dos hospitais é uma das questões desafiadoras para o transporte no APH. “Atualmente, o APH tem vivido seu momento mais difícil desde seu início no Brasil. Vivemos uma epidemia de sinistros de trânsito e uma superlotação das unidades de saúde. Esses fatores têm sobrecarregado e aumentado o tempo de resolutividade das equipes móveis sobremaneira. Muitas vezes, tendo que passar por mais de uma unidade de saúde para fazer a entrega de um paciente, o que pode aumentar o risco de uma sequela ou até mesmo afetar o tempo de tratamento daquele enfermo”, diz Leonardo Gomes, médico, coordenador-geral do SAMU Metropolitano do Recife/PE e coordenador Aeromédico da Força Nacional do SUS.
Para o condutor de ambulância de um SAMU do Nordeste, são muitas as realidades de um país extenso como o Brasil quanto ao transporte no APH, tendo, em alguns locais, uma boa estrutura e resolutividade e, em outros, uma necessidade de melhoria. “Falando de Brasil, os desafios são vários, um sistema de saúde que é superlotado e falta leito para receber pacientes. Em alguns lugares, equipes do SAMU ficam esperando desocupar maca, pois está trancada com o paciente em cima, ocupando, assim, a equipe e impedindo de realizar outro atendimento”, revela o condutor.
MODALIDADES
Para o condutor, a estrutura rodoviária brasileira, o trânsito urbano e as longas distâncias dos hospitais de referência prejudicam o transporte pré-hospitalar, em especial o terrestre. “Outros desafios são as rodovias brasileiras que, por muitas vezes, são ruins ou até não existe pavimentação, asfalto, dificultando o deslocamento da equipe tanto na chegada ao paciente como também quando está com o paciente para chegar no hospital. Já nas capitais e regiões metropolitanas uma grande dificuldade é o trânsito, pois muitos motoristas não dão passagem, ficam no celular e não atentam, entre outras situações. Mais um desafio é que os hospitais de referência, normalmente, estão localizados nas capitais ou grandes cidades, ficando longe dos interiores e da população mais carente. Com isso, as equipes precisam, algumas vezes, realizar transferências de longas distâncias, de até 500 km, para chegar em um hospital de referência”, destaca ele.
O condutor do SAMU também ressalta desafios ligados ao transporte aéreo e fluvial. “Outro tipo de desafio é a logística quando é um transporte aéreo por asa fixa (avião), pois nem todo lugar tem uma pista de pouso ou aeroporto, ficando, assim, limitado. Já as aeronaves de asa rotativa (helicóptero) têm um pouco mais de facilidade, por conseguir pousar em um campo de futebol ou quadra e isso praticamente toda cidade tem. Na região Norte, onde o acesso é fluvial e os pacientes precisam ser transferidos por ambulancha existe muita dificuldade devido ao nível dos rios, chuvas, ventos e outras condições climáticas”.
Mas o condutor enfatiza que em todo o tipo de transporte no APH um desafio em comum é o oxigênio para toda e qualquer situação, que precisa ser bem calculado para não faltar no percurso. Segundo Antonio Onimaru, médico do Sistema Grau Resgate da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, deve-se questionar: “será que esse oxigênio vai conseguir suprir uma distância de 50 km, por exemplo?”.
Já Paulo de Tarso Monteiro Abrahão, médico regulador do SAMU Metropolitano de Salvador/BA, enumera como um desafio no transporte a quantidade de ambulâncias. “Tem lugares que são insuficientes para a demanda. E nem sempre o Ministério tem esta quantidade de ambulâncias para o ano inteiro”, diz ele.
Confira a reportagem completa na edição de mai/jul/2024 da Revista Emergência.