sábado, 14 de junho de 2025

Entrevista: Marcas profundas – Ed. 153

Psicóloga que atuou em tragédias aeronáuticas, da boate Kiss e Brumadinho fala de suas experiências e da importância da Psicologia das Emergências e Desastres para afetados

A enchente no Rio Grande do Sul, em maio deste ano, deixou marcas emocionais profundas em quem vivenciou a tragédia. Marcas que necessitam do auxílio psicológico para amenizá-las. A partir deste desastre gaúcho, a psicóloga Rosana Teresinha D’Orio de Athayde Bohrer traça um paralelo da preocupação da Psicologia das Emergências e Desastres em situações semelhantes. Ela alerta que os PCP (Primeiros Cuidados Psicológicos) são a primeira preocupação diante de tragédias, seguidos de acompanhamentos posteriores de vítimas e enlutados.

Rosana tem vasta experiência neste ramo, atuando em tragédias de grande repercussão, como boate Kiss, no Rio Grande do Sul, e Brumadinho, em Minas Gerais. Ela também atuou diretamente na resposta às crises e recuperação de familiares enlutados por acidentes aeronáuticos e na violência em comunidades, incluindo escolas. Veja nesta entrevista as experiências de Rosana nestas tragédias e qual a importância da Psicologia das Emergências nelas.

Por Paula Barcellos/Editora e Jornalista da Revista Emergência


PERFIL | ROSANA TERESINHA D’ORIO DE ATHAYDE BOHRER

Graduada em Psicologia, Rosana é pós-doutorada no tema Catástrofes em Filosofia da Educação pela UFSM, Doutora em Psicologia Clínica, no tema Luto em Situações de Catástrofes, e Mestre em Psicologia Social no tema Pânico, Desamparo e Estresse Pós-Trauma Após Acidente Aéreo, ambas realizadas na PUCSP. Foi fundadora e primeira presidente da Abrapede (Associação Brasileira de Psicologia em Emergências e Desastres). Atuou diretamente na resposta às crises nas tragédias da boate Kiss e Brumadinho, na resposta e recuperação de familiares enlutados por acidentes aeronáuticos, e na violência em comunidades, incluindo escolas. É especialista em Suicidologia. Supervisionou teleatendimentos voluntários devido à situação de pandemia da Covid-19, para a área da Saúde e Movimentos Sociais, e foi pesquisadora em Saúde Mental na Fiocruz.


COMO E POR QUE RESOLVEU VOLTAR SUA ATUAÇÃO PARA A PSICOLOGIA DAS EMERGÊNCIAS?

Acredito que a vida nos apresenta vários caminhos e, alguns deles, nos tocam de forma mais próxima ao coração. Então, nos dispomos a servi-lo. Tive a oportunidade de trabalhar 25 anos na aviação, na Varig S/A, como aeronauta e, paralelamente, no treinamento que incluía segurança, área da saúde, chefia de comissários e a área de prevenção e investigação de acidentes aeronáuticos. Nesse tempo, também clinicava para pacientes que apresentavam medo de voar e fazia um mestrado sobre o Transtorno do Estresse Pós-traumático. No início do novo milênio, trabalhei na recuperação de famílias enlutadas por acidentes aeronáuticos, quando realizei um doutorado para conhecer melhor o processo de luto e luto traumático. Posteriormente, já atuando mais efetivamente nesses casos, expandi o campo para além da aviação, e fundei a primeira Associação Brasileira de Psicologia em Emergências e Desastres, época que abrangeu a tragédia da boate Kiss, Brumadinho, casos de violência urbana, entre outros. Por fim, fiz uma especialização em Prevenção e Intervenção de casos de Suicídio devido à alta demanda dos tempos atuais, em situações particulares e em escolas.

EM TRAGÉDIAS QUE IMPACTARAM DIRETAMENTE COMUNIDADES INTEIRAS, COMO A DO RS, QUAIS SÃO AS PREOCUPAÇÕES EM TORNO DA PSICOLOGIA DAS EMERGÊNCIAS NO PRIMEIRO MOMENTO E POSTERIORMENTE?

A primeira preocupação é estar preparado para oferecer os PCP (Primeiros Cuidados Psicológicos). Além disso, saber engajar-se nas equipes da coordenação da crise, contribuir com os serviços de resposta e proteção e não atrapalhar as medidas do Plano de Contingência e Sala de Crise, para evitar atrapalhar e gerar crise dentro da crise. Os PCP englobam: oferecer apoio e cuidados práticos não invasivos; avaliar necessidades e preocupações dos afetados; ajudar as pessoas a suprir suas necessidades básicas (por exemplo, alimentação, água e informação); escutar as pessoas, sem pressioná-las a falar; confortar as pessoas e ajudá-las a se sentirem calmas; auxiliar na busca de informações, serviços e suportes sociais; e proteger as pessoas de danos adicionais, respeitando os direitos individuais e coletivos. É importante buscar informações sobre dados da tragédia e serviços de apoio para encaminhar sempre que sua ajuda não for suficiente para o caso. Posteriormente, deve-se cuidar dos encaminhamentos, da elaboração de relatórios para os grupos responsáveis da coordenação da tragédia e ajudar na organização de rituais fúnebres, bem como ações de preservação da memória das vítimas. Incluir, sempre que possível, o acompanhamento dos enlutados e oferecer orientações para a organização de grupos e reuniões de afetados.


Confira a entrevista completa na edição de ago/out/2024 da Revista Emergência.

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