sábado, 14 de junho de 2025

Entrevista: Em busca da prevenção

Edição 155 – Fev/Abr / 2025

Coronel do CBMES fala da importância da perícia de incêndios e explosões para prevenir futuros sinistros

Scharlyston Martins de Paiva é presença obrigatória quando o assunto é perícia de incêndio e explosões no Brasil. Coronel do CBMES (Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo) há 30 anos, é especializado no assunto desde 1999 e de lá para cá estuda, escreve e faz palestras sobre a temática que considera fundamental para a prevenção dos incêndios. “Os incêndios precisam ser evitados e, para tanto, precisamos investigar para saber de fato o que aconteceu e fornecer informações para que o sistema possa agir, modificando normas ou fazendo outras ações que possam prevenir futuros incêndios”, diz.
Apesar de importante, o coronel revela que nem todos os Corpos de Bombeiros do Brasil realizam a atividade, sendo hoje o grande desafio do Comitê Nacional de Perícia de Incêndio da LIGABOM (Conselho Nacional dos Corpos de Bombeiros do Brasil): o convencimento de todas as corporações sobre essa necessidade. Nesta entrevista, ele fala dos trabalhos e das evoluções da perícia de incêndio e explosões, além das atividades do Programa “Espírito Santo Seguro”, do qual é idealizador e coordenador, e das prioridades na coordenação Estadual de Proteção e Defesa Civil do ES.

Por Paula Barcellos/Editora e Jornalista da Revista Emergência


PERFIL – SCHARLYSTON MARTINS DE PAIVA

É coronel do CBMES com 30 anos de carreira, bacharel em Direito e especializado em Perícia de Incêndio e Explosões desde 1999. Presidente do CONAPI (Comitê Nacional de Perícia de Incêndio) da LIGABOM, também é presidente da ABINVI (Associação Brasileira de Investigadores de Incêndio) e do Capítulo 80 (Capítulo Brasileiro) da IAAI (Associação Internacional de Investigadores de Incêndio). É, ainda, coordenador Estadual de Proteção e Defesa Civil do ES e idealizador e coordenador técnico do Programa “Espírito Santo Seguro”, do CBMES.


POR QUE O SENHOR QUIS SEGUIR A CARREIRA NO BOMBEIRO? COMO SE DEU ESTE CHAMADO?

Minha história na corporação possui um ingrediente familiar muito forte. Meu pai é sargento reformado do CBMES; cresci vendo-o sair de casa para trabalhar e por diversas vezes, ainda criança, fui ao quartel ficar parte do dia com ele durante seus plantões. Via os caminhões saindo para as ocorrências, os treinamentos, a rotina do trabalho dos bombeiros e tudo isso fez com que eu desejasse seguir a mesma carreira de meu pai; e assim aconteceu! Aos 19 anos fiz o concurso para o Curso de Formação de Oficiais da PMES, ingressei na Escola de Formação e, em dezembro de 1996, me formei e fui servir no Corpo de Bombeiros que no ano seguinte, emancipou-se da Polícia Militar. Contudo, ainda consegui trabalhar por três anos com meu pai em diversos incêndios, antes de ele ingressar na reserva.

HOJE SUA GRANDE DEDICAÇÃO NA ÁREA É NA PERÍCIA DE INCÊNDIO E EXPLOSÕES. QUAIS OS DESAFIOS E AS EVOLUÇÕES SOBRE ESTE TEMA NOS ÚLTIMOS ANOS NO PAÍS?

A perícia de incêndios e explosões faz parte do ciclo operacional da segurança contra incêndio. E sem essa fase não conseguimos os dados necessários para completar o ciclo e fazer a prevenção. Os incêndios precisam ser evitados e, para tanto, precisamos investigar para saber de fato o que aconteceu e fornecer informações para que o sistema possa agir, modificando normas ou fazendo outras ações que possam prevenir futuros incêndios. Funciona parecido com o CENIPA, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos. Independentemente de qualquer óbito que tenha ocorrido, as polícias irão até o local do acidente aéreo, mas também as equipes da Força Aérea farão o seu papel, colhendo informações que subsidiarão relatórios destinados a prevenir novos acidentes. O lema do CENIPA é “investigar para prevenir”. Isso vale também para os Corpos de Bombeiros no que se refere aos incêndios. E é esse convencimento que buscamos junto aos comandantes-gerais dos Corpos de Bombeiros do Brasil, por meio do Comitê Nacional de Perícia de Incêndio. Obtivemos vários progressos após a confecção de diversos trabalhos elaborados por grupos temáticos do comitê e apresentados à LIGABOM. Ainda conseguimos criar uma Associação Nacional de Investigadores de Incêndio, seminários nacionais e cursos nacionais em formato de pós-graduação, porém, ainda precisamos avançar mais.

AS CORPORAÇÕES EM GERAL TÊM SABIDO ATUAR NA PRÁTICA NESTA ÁREA? COMO ESTÁ O CONHECIMENTO DELAS SOBRE O ASSUNTO?

Então, infelizmente nem todos os Corpos de Bombeiros do Brasil realizam a atividade de perícia de incêndio. De acordo com as pesquisas recentes feitas pelo próprio comitê nacional de perícia da LIGABOM, somente 16 estados da Federação realizam algum tipo de atividade relacionada à investigação ou perícia de incêndio e explosão. Percebe-se que ainda existe um certo receio de um conflito de atividades entre a perícia das corporações bombeiros militares e as perícias criminais desenvolvidas pelas polícias forenses. Contudo, é importante salientar que a atividade investigativa é pressuposto para o desenvolvimento constante da segurança contra incêndio, pois, como já disse aqui, sem a coleta de dados e informações por meio das atividades relacionadas à investigação de incêndio, não é possível a realização de uma gestão eficiente para a prevenção. Esse é o grande desafio hoje para o desenvolvimento da atividade no Brasil: o convencimento de todas as corporações da necessidade de implantação do serviço de perícia de incêndio e explosão para que seja possível trabalhar com excelência a prevenção contra incêndios.


Confira a entrevista completa na edição de fev/abr / 2025 da Revista Emergência.

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