
O caminho do médico Paulo de Tarso na área de Urgência e Emergência começou há mais de 20 anos, quando trabalhava na prefeitura de São Paulo e foi convidado para participar das atividades do Projeto Resgate que iniciava, fruto de uma parceria entre a Secretaria de Saúde do Estado com a Secretaria de Segurança Pública por meio do Corpo de Bombeiros e do Grupamento Aéreo da Polícia Militar.
“Na época existia um tabu horrível, causado por um desconhecimento de que era melhor investir nos hospitais do que ter uma ambulância toda equipada. Só que por diversos fatores acabei indo conhecer o serviço e entendi o que ele representava. Comecei a aprender e foi uma paixão. Eu falo que é uma doença infectocontagiosa sem cura. Você se contamina e fica cada vez mais apaixonado porque é um pedaço da assistência que dá um salto de qualidade muito grande.”
Para ele, esta paixão se traduz numa questão: humanização. “Ele nos tira de dentro da unidade de saúde que nos protege por paredes e nos coloca em contato com a sociedade. Passamos a entender o processo saúde e doença porque vamos até a pessoa. Com isto, abrimos a mente, mudando, inclusive, juízos e valores. Fazemos uma revisão, inclusive, de aspectos técnicos profissionais. Provoca uma mudança no caminho da humanização incrível”, destaca.
Toda a sua experiência só reforçou esta paixão e o levou até o cargo de coordenador geral de Urgência e Emergência e do SAMU 192, do Ministério da Saúde. Hoje, continua reforçando que o caminho é humanizar e para isto mudanças precisam ser feitas no sistema, o que fica provado já com a primeira portaria publicada em sua gestão, a 1.600, que institui a Rede de Atenção às Urgências no SUS.
Sobre os objetivos e perspectivas da Rede, os demais elementos que a compõem, além da educação, estrutura, novas tecnologias e divulgação do sistema brasileiro de Urgência e Emergência, Paulo de Tarso falou à Emergência durante a última Expo Emergência, em agosto.
Revista Emergência – O que a portaria instituída este ano sobre a rede de atenção às urgências pretende trazer na prática para o sistema e quais as expectativas?
Paulo de Tarso Monteiro Abrahão – Um ponto principal que eu vejo é parar de ver Urgência como se fosse SAMU e UPA. Urgência é este todo que começa desde a promoção e prevenção, ou seja, fazer saúde e não só o atendimento à doença. Promover saúde para que tenha menos urgência e passar por todos os segmentos de atenção na rede assistencial, desde a atenção básica, regulação, todas as portas hospitalares, humanização, pós-hospitalar, entre outros. Para mudar este conceito, este cenário de que o paciente nunca é de ninguém na questão do agravo da urgência. Então, por exemplo, se tenho uma urgência, eu preciso ser acolhido num ponto de atenção da saúde, seja ele qual for. De acordo com a classificação do meu risco de urgência, eu vou ser acolhido nesta unidade, estabilizado nesta unidade e encaminhado para o ponto certo, de acordo com o risco do meu agravo. Outro ponto importante é pararmos de falar do conceito Urgência e Emergência (conceito técnico) que é só um conceito que nos afasta da população. Temos que falar, agora, de necessidades. As pessoas têm necessidades diferentes e estas necessidades passam por vários pontos, desde a gravidade daquilo que está afetando a saúde delas até a valência social. Então, a valência social vai dizer que um agravo para uma pessoa é diferente do mesmo agravo para outro segmento da sociedade que tem uma vulnerabilidade maior, como as pessoas que moram na rua, como a população indígena, como alguém que mora de uma maneira mais precária. Então, o mesmo agravo técnico, pelas vulnerabilidades diferentes, fará com que o risco aumente e que os profissionais da saúde encarem a Urgência de uma maneira mais verdadeira e mais humana.
Leia a entrevista completa na edição de outubro da Revista Emergência.
Foto: Antonio Ledes
Conheço Paulinho desde o SAMU Salvador, SAMU Sergipe e SAMU Paulo Afonso, Ba. Excelente médico regulador e emergencista, professor do curso de regulaçao do Ministério da Saude, nao visa capital algum, somente o carinho com as pessoas e o progresso do sistema de saude do nosso país.Parabéns á revista por esta excelente entrevista. Por favor, façam chegar até ele o meu abraço, Comandante Urubu, médico do SAMU Sergipe.