quinta-feira, 26 de junho de 2025

Atendimento de múltiplas vítimas requer organização

Data: 17/07/2013 / Fonte: Revista Emergência

Um caminhão carregado de toras de madeira trafega por uma rodovia quando, de repente, as correntes que seguram a carga se rompem, derrubando os troncos em uma autoestrada movimentada. Veículos que também seguem pela pista são atingidos pelos troncos, motoristas assustados perdem o controle de seus carros e motos, capotam, colidem entre si, criando um cenário de destruição, mortes e muitos feridos.

Apesar do relato reproduzir uma cena do filme Premonição 2, de 2003, diariamente estamos sujeitos a tragédias semelhantes na vida real, em que o número de vítimas é assustador e exige dos órgãos de emergência preparo e organização do atendimento pré-hospitalar em meio ao caos para salvar o maior número de pessoas possível no menor tempo possível.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) define catástrofes, como aquelas situações em que as necessidades de atendimento excedem os recursos disponíveis, exigindo medidas extraordinárias e coordenadas para manter o serviço básico às vítimas. Sempre necessitando de ajuda externa para atender as demandas existentes. As enchentes, maremotos, erupções vulcânicas, deslizamentos são as principais causas de catástrofes naturais, responsáveis por um grande número de mortes ao longo da história da humanidade.

As enchentes são as mais comuns delas, sendo os afogamentos, hipotermia e traumas por escombros apontados como os principais fatores que levam as vítimas à morte nesses casos. Entre os sobreviventes, a minoria necessita de atendimento médico e os ferimentos costumam ser leves. Terremotos também causam um grande número de vítimas, com lesões por esmagamento e presas nos escombros, quebrando toda a estrutura da sociedade.

O ser humano também contribui para que catástrofes aconteçam, como acidentes de trem, explosões, incêndios, acidentes com materiais radioativos ou tóxicos, além de guerras. Quando há um desequilíbrio entre os recursos disponíveis e as necessidades, mas que podem ser atendidas pela estrutura local ou regional, trata-se de um acidente com múltiplas vítimas.

São as situações de acidentes com ônibus, vans, vários veículos, desabamentos, atentados terroristas, que produzem um grande numero de vítimas. Alguns serviços consideram que a partir de cinco vítimas, trata-se de acidentes com múltiplas vítimas. Neste tipo de situação, alguns procedimentos médicos e operacionais são necessários para atendimento às vítimas, como a triagem dos pacientes.

Para o médico cirurgião e professor de Cirurgia do Trauma na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Bruno Pereira, que também integra a diretoria da Sociedade Panamericana de Trauma, os métodos de triagem em campo são parecidos. “Independente de qual for, precisam ser dinâmicos, rápidos e assertivos. O objetivo maior num cenário catastrófico é triar o maior número de vítimas com chances de sobrevivência no menor espaço de tempo e com segurança”, ressalta.

“Os métodos de triagem com cores vieram como uma ferramenta proposta para preencher estes requisitos básicos. Mas ainda assim, o número de cores envolvidas no método de triagem pode variar. O ponto é que não existe, na verdade, um método melhor ou pior, mas aquele em que o grupo envolvido no resgate está mais familiarizado e apto para empregar”, frisa o especialista.

Método

O método de triagem mais difundido entre as escolas de treinamento e equipes de resgate em todo o mundo é o S.T.A.R.T. (Simple Triage And Rapid Treatment) – Triagem Simples e Tratamento Rápido. “Foi este o método utilizado, por exemplo, nos primeiros minutos após o atentado das torres gêmeas, em Nova Iorque, e do Pentágono, em Washington, em 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.

O S.T.A.R.T. foi também empregado no tsunami do Japão, em 2011, no terremoto de Bam, no Iraque, em 2003, mais recentemente no ataque à bomba na Maratona de Boston e em outros desastres naturais ou intencionais conhecidos da humanidade”, elenca Pereira.

De acordo com o especialista, a única vantagem deste método pode estar na linguagem universal que ele propõe, baseada em cores. “No terremoto do Haiti, em 2010, diversos grupos de busca e resgate de diferentes países voluntariamente se dirigiram para a ilha devastada pelo incidente natural. Eram franceses, ingleses, chineses, brasileiros, japoneses, chilenos. Diferentes idiomas, diferentes culturas. Como se comunicar em um local remoto e catastrófico como este? O S.T.A.R.T. entra então como um método lúdico global que todos entendem, apesar de suas diferenças essenciais que remetem sua origem étnica”, exemplifica.

O S.T.A.R.T. já está bastante difundido entre a maioria das instituições brasileiras envolvidas no atendimento às emergências e acidentes com múltiplas vítimas, incluindo Corpo de Bombeiros, SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), GRAU (Grupo de Resgate e Atenção às Urgências e Emergências de São Paulo), FN SUS (Força Nacional do Sistema Único de Saúde) e as empresas privadas de atendimento pré-hospitalar.

No S.T.A.R.T., assim como na maioria dos métodos existentes, um esquema de classificação por cor representa a gravidade das vítimas de uma determinada situação. “Ou seja, vítimas com alto risco de morte possuem uma determinada cor, diferente daquelas que conseguem andar. Assim, vítimas consideradas como aquelas com ausência de respiração são classificadas como preta, vermelhos são aqueles pacientes que necessitam de assistência médica imediata, a cor amarela representa as vítimas que podem aguardar assistência médica e que não conseguem se mobilizar. Os verdes são aqueles que apesar de feridos em algum grau são capazes de se locomover e mobilizar para uma zona dirigida”, detalha Pereira.

Grandes eventos

Com a proximidade de grandes eventos no País, como a Copa do Mundo e Olimpíadas, os treinamentos estão sendo intensificados tanto por órgãos públicos como privados, inclusive para o atendimento a múltiplas vítimas. De acordo com o coordenador-geral de Urgência e Emergência do MS (Ministério da Saúde), Paulo de Tarso Monteiro Abrahão, a FN SUS (Força Nacional do Sistema Único de Saúde) conta com 329 profissionais treinados e já em atuação para estes eventos e há meta de capacitar outros mil este ano.

“Os voluntários estão sendo treinados para agir em situações de resgates e em situações de resposta crítica dentro do protocolo estabelecido. Estavam previstos também simulados para aplicação do plano de resposta às situações de emergência em saúde pública nas cidades-sede da Copa das Confederações”, revela. Ele recorda que, em setembro de 2012, o MS realizou o treinamento dos profissionais que integram a FN SUS. Durante o curso, os voluntários foram orientados sobre a prática de gestão da saúde em situação de desastre e realizaram atividades em grupo. A capacitação incluiu, também, as cidades-sede da Copa do Mundo do ano que vem.

A FN SUS é um programa de cooperação voltado à execução de medidas de prevenção, assistência e combate a situações de risco epidemiológico (surtos de leptospirose após enchentes, por exemplo), desastres ou desassistência à população. Ela é formada por profissionais especializados no atendimento a vítimas, que exige resposta rápida, apoio logístico e equipamentos de saúde.

Coordenada pelo Ministério da Saúde, a FN SUS atua de forma organizada e articulada com o Ministério da Defesa, Estados e municípios. Em quase dois anos de atuação, a Força participou de 11 missões, sendo quatro delas relacionadas a desastres naturais – enchentes em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo em janeiro de 2012; enchentes no Acre em fevereiro do ano passado; enchentes no Amazonas em maio do mesmo ano; e desastres naturais na região serrana do Rio de Janeiro no fim de outubro passado.

De acordo com Abrahão, um grande avanço da Força Nacional do SUS foi a definição de um protocolo para atuação em desastres celebrado em conjunto pelos ministérios da Saúde, da Integração Nacional e da Defesa. O protocolo tem como objetivo estabelecer fluxos e procedimentos de gestão para as situações de emergência que exigem respostas rápidas na esfera federal, como é o caso dos desastres naturais. 

O Ministério da Saúde é responsável pela coordenação das medidas a serem executadas durante a situação de emergência, em articulação com os gestores estaduais e municipais do SUS. Entre estas ações, se destacam a mobilização de equipes e profissionais especializados de vigilância epidemiológica, sanitária, ambiental, laboratório, assistência à saúde, comunicação, logística ou outros, de acordo com a natureza da emergência; a viabilidade do acesso a serviços especializados na área de diagnóstico, assistência, vigilância epidemiológica, transporte, logística, ou outros recursos necessários na resposta às emergências; e a disponibilidade de insumos, materiais ou recursos financeiros complementares.

Confira a reportagem completa na edição de julho da Revista Emergência

Reportagem: Thiago Padilha
Foto: Rafael Geyger

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