Edição 155 – Fev/Abr / 2025
Magnitude dos desastres depende de diversos fatores, em especial da capacidade de resposta das instituições
Temos visto a ocorrência de diversas emergências químicas de grande porte nos últimos anos, tanto no Brasil como em outros países. É uma das consequências do desenvolvimento tecnológico e da necessidade de mais conforto que a sociedade demanda. É crescente a expansão dos processos produtivos, assim como uma intensificação da movimentação de produtos químicos em todos os modais de transporte, destacando o rodoviário, ferroviário, hidroviário (fluvial e marítimo), dutoviário e aéreo.
Algumas vezes já me perguntaram: “Qual é a pior emergência para ser atendida ou a pior em termos de consequências ao homem e ao meio ambiente?”. A presunção que a maioria das pessoas tem é de que as emergências envolvendo gases são sempre piores, em termos de consequências ao homem e ao meio ambiente, do que as emergências com líquidos e sólidos, devido à alta mobilidade do produto no ambiente, podendo, portanto, atingir maiores distâncias. A minha resposta para essa questão é: depende. Depende de diversos fatores que veremos nesse artigo.
Muitas vezes associamos a ocorrência de uma grande emergência química a uma grande vazada de um produto. Mas será que é sempre assim? Quais fatores determinam a magnitude de uma emergência química? Um grande volume vazado é o suficiente para afirmar que a emergência foi de elevada magnitude? Tenho certeza de que a resposta é não. Vejamos.
Toda emergência química representa uma possibilidade de serem gerados impactos ou danos à saúde e segurança pública (homem), ao meio ambiente (ar, água, solo, fauna e flora) e à propriedade, além dos aspectos socioeconômicos, como a paralisação de uma rodovia, de uma atividade portuária, de uma suspensão na captação e distribuição de água de uma cidade, etc.
CENÁRIOS
Pensando nos elementos vulneráveis acima, podemos concluir que a magnitude de uma emergência dependerá de vários fatores.
Por exemplo, vamos imaginar um acidente rodoviário em uma importante via na cidade de São Paulo. Este acidente envolve um caminhão carroceria transportando bombonas de água. Houve pequeno vazamento do produto. Quais as consequências deste cenário? Provavelmente apenas aspectos socioeconômicos devido à paralisação de uma ou duas faixas de rolamento daquela via. Não há consequências à saúde e segurança pública (pessoas não envolvidas diretamente no acidente) e tampouco ambientais.
No mesmo cenário acima, vamos trocar a água por sacarias de soda cáustica em escamas e com rompimento de algumas embalagens. Nesse caso, creio que todos concordam que aumentaria a possibilidade de danos à saúde e segurança pública, assim como ao meio ambiente, mesmo que o produto tenha pouca mobilidade, pois é um sólido. Pioramos um pouco o nosso cenário.
Mas, e se ao invés de água fosse um solvente sendo transportado em contêineres IBC (Intermediate Bulk Container), com capacidade para mil litros cada, e com vazamento de uma embalagem, havendo espalhamento de produto na via, sem a ignição do material? Aumentou a complexidade da emergência? Sem dúvida que sim, dada à periculosidade do material, pois é inflamável, ao volume envolvido e à mobilidade elevada, já que se trata de um líquido. Aumentou a chance de serem gerados impactos ao homem (saúde e segurança pública), ao meio ambiente (contaminação de solo, ar, água, fauna e flora) e possibilidade de danos à propriedade, caso ocorra ignição do produto vazado, além dos aspectos socioeconômicos (trânsito, por exemplo).
Mas, podemos piorar o nosso cenário (sempre é possível piorar). No lugar do solvente inflamável vamos considerar uma carreta contendo 20 toneladas de amônia anidra e com vazamento. Certamente, seria uma situação muito mais complexa do que no caso anterior. A possibilidade de ocorrência de impactos à saúde e segurança do homem seriam bem maiores devido à altíssima mobilidade do produto (gás), ao volume que poderia vazar (20 toneladas) e à sua elevada toxicidade. Os impactos ambientais, nesse caso, poderiam envolver a contaminação do ar e a possibilidade de danos à vegetação (amônia é fitotóxica).
Autor:
Edson Haddad – Químico MSc e diretor do Dinos Group (Associação de Especialistas em Controle de Emergências do Brasil)
edsonh@uol.com.br
Confira o artigo completo na edição de fev/abr / 2025 da Revista Emergência.