Edição 156 – Mai/Jul / 2025
Prevenção e segurança contra incêndios urbanos envolvendo a nova realidade da família multiespécie, que inclui os animais domésticos
O conceito de família vem se consolidando com as transformações ao longo dos anos. Antes era definida como aquela constituída pelos pais e seus filhos, levando-se em consideração somente a consanguinidade. Atualmente, identificamos um pluralismo de entidades com vários tipos de relações familiares baseadas na afetividade.
A grande maioria considera seu animal de estimação como um membro da família com todos os direitos: alimentação, plano de saúde veterinário, creche, Registro Geral, até perfis em rede social. Em função dessa nova perspectiva, surge o conceito de uma família multiespécie – aquela em que o animal doméstico é considerado como membro da família, na maioria das vezes tratado como “filho” por seus responsáveis, podendo-se perceber a relação de afeto recíproca existente.
Segundo a ABInPet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos Para Animais de Estimação), o Brasil é o terceiro maior país do mundo quando o assunto é a população pet e faturamento – atrás somente de EUA (1º) e China (2º). São, atualmente, mais de 160 milhões de animais de estimação no país, de acordo com dados de 2023. Os cães lideram o ranking, com 62 milhões de indivíduos. As aves vêm em segundo, com 42 milhões, e os gatos figuram em terceiro lugar, com 30 milhões.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população brasileira segundo grupo etário – Brasil e Grandes Regiões, em 2022, era de 70,4 milhões de crianças e adolescentes entre zero e 18 anos de idade. Portanto, nas famílias brasileiras estão se esvaziando os berços das crianças enquanto cresce a presença de animais de estimação. Como nos países mais desenvolvidos do planeta, por exemplo nos Estados Unidos e no Japão, também no Brasil o número de animais que convivem com as famílias supera o de crianças até os 14 anos.
O mercado se transformou rapidamente no Brasil e no mundo. Mais produtos, novas demandas e uma conscientização cada vez maior de que nossos animais de estimação estão, cada vez mais, dentro de casa, e não apenas em nossos quintais. A demanda por serviços veterinários de urgência e emergência surgem em concomitância com o novo ordenamento jurídico na defesa dos direitos dos animais. Nessa questão, a prevenção e segurança contra incêndios urbanos é uma questão crítica para a preservação da vida humana, mas também deve englobar os animais que fazem parte da vida das famílias. No contexto da família multiespécie, que inclui não apenas os humanos, mas também os animais de estimação, a atuação de equipes de busca e salvamento em situações de incêndio precisa ser inclusiva e coordenada.
Embora os integrantes dos corpos de bombeiros tenham uma formação voltada para o combate a incêndios e a busca e salvamento de pessoas, a segurança dos animais, especialmente os domésticos, durante esses eventos emergenciais, requer uma abordagem mais específica. Em muitos casos, os animais domésticos são colocados em segundo plano durante a evacuação. Sabemos que, todos os animais, tanto domesticados como selvagens, carecem da capacidade de autopreservação quando alojados em edifícios e outras estruturas.
A prevenção e a segurança, no contexto de uma família multiespécie, também dependem de um plano de ação que envolva a preparação para emergências. Uma abordagem integrada que inclui a conscientização de que, além de programas de prevenção e segurança contra incêndios urbanos envolvendo animais domésticos, é fundamental que os tutores de animais saibam como agir em uma emergência e a necessidade de inclusão do suporte básico de vida veterinário em cursos de formação nos corpos de bombeiros no país. O planejamento de medidas de segurança, como rotas de fuga específicas para animais e estratégias de resgate adequadas é essencial para proteger tanto as vidas humanas quanto as dos animais.
Autor:
Bruno Silva do Carmo – sargento, graduando em Medicina Veterinária (UNIVERSO), especialista em Busca e Salvamento, Medicina Veterinária de Desastres, Resgate Técnico de Pequenos Animais, Silvestres e Animais de Grande Porte, Atendimento Pré-Hospitalar Veterinário (Socorrismo Animal) e RECOVER Certified Rescuer ALS/BLS pela AVECCS (American College of Veterinary Emergency & Critical Care).
bruno.docarmo@hotmail.com
Confira o artigo completo na edição de mai/jul / 2025 da Revista Emergência.