terça-feira, 01 de julho de 2025

Participe da seção Histórias de Vida. Deixe seu relato para que todos possam aprender com as experiências trocadas aqui.

“Histórias de Vida” é um espaço para que os leitores contem sobre suas vivências marcantes e diferentes durante as emergências, seja como resgatistas ou resgatados.

Participe! Envie seu depoimento com nome, telefone, cidade, estado e uma foto sua, caso queira, para redacao@revistaemergencia.com.br.

Nome: Elisângela
Cidade: Mogi Guaçu

Meu pai passou por várias cirurgias, tendo que amputar alguns dos seus dedos devido à diabete. Com o passar dos anos, teve que fazer novamente mais uma cirurgia, e esta sem dúvida foi uma das piores, pois o médico queria amputar a perna inteira em razão de uma infecção. Um dos dedos já estava necrosado, por isto o médico queria cortar a perna, para a infecção não subir. Meu pai não aceitou, pois perder uma perna seria terrível, sem dúvidas.

Optou por tentar tirar somente o dedo mais uma vez. Passado um mês, o dedo dele cicatrizou ate rápido demais, e com isto toda família ficou feliz. Após quatro meses, ele começou a sentir dores fortes na bacia e pescoço, achamos que seria coluna, mas daquele momento em diante o caso começou a piorar. Mesmo tomando injeções e medicamentos nada passava a dor. Teve febre, fez um exame de sangue que apontou uma infecção muito alta, fizemos uma ressonância e então foi constatado que ele estava com uma infecção no osso. Segundo o médico, poderia ser devido à amputação, e a bactéria que estava no dedo subiu para a coluna.

No tratamento em casa, mesmo com remédios e antibióticos fortes a dor não amenizava, e devido a tantos medicamentos começou a reclamar que o estomago doía, havia dias que ele não queria se alimentar. Com passar do tempo, a diabete ficou descontrolada, estava muito baixa, ele começou a sentir um pouco de falta de ar.  Um dia foi tomar banho e já não conseguia respirar direito, mas jamais iríamos imaginar que meu pai estava tendo um infarto, pois a diabete camufla a doença. Ele não sentiu dor no peito, nem nos braços, somente um pouco de falta de ar. Foi tudo muito rápido e meu marido, que trabalha no SAMU como socorrista e também bombeiro, e que havia acabado de sair do plantão, neste momento socorreu meu pai. Chegando ao hospital já havia uma equipe à sua espera. Foi constatado que meu pai estava tendo um infarto e todo o procedimento foi feito muito rápido para salvá-lo. Quando a viatura do SAMU já estava pronta para transferi-lo para a UTI, meu marido foi junto, e eu fui com o carro atrás.

De repente, eles param e iniciaram a massagem cardíaca no meu pai. Foi quando meu mundo desabou. Meu marido e a equipe tentaram salvar meu pai, mas, infelizmente, ele veio a falecer tendo uma segunda parada cardíaca. Ele teve todo atendimento devido, mas infelizmente a diabete camuflou o infarto.

Gostaria de agradecer a toda equipe do SAMU de Mogi Guaçu, ao meu marido Fernando (socorrista), Dr Raul, enfermeira Flávia e ao socorrista Braga pelo empenho. Sei que foi feito tudo que podia ser feito.

Ass: Elisangela
 

Nome: Renato Neves Motta
Cidade: Rio de Janeiro/RJ

Meu pai passou por várias cirurgias, tendo que amputar alguns dos seus dedos devido à diabete. Com o passar dos anos, teve que fazer novamente mais uma cirurgia, e esta sem dúvida foi uma das piores, pois o médico queria amputar a perna inteira em razão de uma infecção. Um dos dedos já estava necrosado, por isto o médico queria cortar a perna, para a infecção não subir. Meu pai não aceitou, pois perder uma perna seria terrível, sem dúvidas. Optou por tentar tirar somente o dedo mais uma vez. Passado um mês, o dedo dele cicatrizou ate rápido demais, e com isto toda família ficou feliz.

Após quatro meses, ele começou a sentir dores fortes na bacia e pescoço, achamos que seria coluna, mas daquele momento em diante o caso começou a piorar. Mesmo tomando injeções e medicamentos nada passava a dor. Teve febre, fez um exame de sangue que apontou uma infecção muito alta, fizemos uma ressonância e então foi constatado que ele estava com uma infecção no osso. Segundo o médico, poderia ser devido à amputação, e a bactéria que estava no dedo subiu para a coluna.

No tratamento em casa, mesmo com remédios e antibióticos fortes a dor não amenizava, e devido a tantos medicamentos começou a reclamar que o estomago doía, havia dias que ele não queria se alimentar. Com passar do tempo, a diabete ficou descontrolada, estava muito baixa, ele começou a sentir um pouco de falta de ar.  Um dia foi tomar banho e já não conseguia respirar direito, mas jamais iríamos imaginar que meu pai estava tendo um infarto, pois a diabete camufla a doença. Ele não sentiu dor no peito, nem nos braços, somente um pouco de falta de ar. Foi tudo muito rápido e meu marido, que trabalha no SAMU como socorrista e também bombeiro, e que havia acabado de sair do plantão, neste momento socorreu meu pai.

Chegando ao hospital já havia uma equipe à sua espera. Foi constatado que meu pai estava tendo um infarto e todo o procedimento foi feito muito rápido para salvá-lo. Quando a viatura do SAMU já estava pronta para transferi-lo para a UTI, meu marido foi junto, e eu fui com o carro atrás.  De repente, eles param e iniciaram a massagem cardíaca no meu pai. Foi quando meu mundo desabou. Meu marido e a equipe tentaram salvar meu pai, mas, infelizmente, ele veio a falecer tendo uma segunda parada cardíaca. Ele teve todo atendimento devido, mas infelizmente a diabete camuflou o infarto.

Gostaria de agradecer a toda equipe do SAMU de Mogi Guaçu (foto), ao meu marido Fernando (socorrista), Dr Raul, enfermeira Flávia e ao socorrista Braga pelo empenho. Sei que foi feito tudo que podia ser feito.

Nome: Toninho Mendonça
Cidade: Quinta do Sol/PR

Aqui é o Toninho Mendonça. Quero compartilhar com vocês uma experiência que vivi neste fim de semana, mais precisamente nas primeiras horas do dia 14 de outubro de 2011. Eu estava de plantão quando recebi um chamado para levar uma paciente até a Santa Casa de Campo Mourão (PR), pois ela estava entrando em trabalho de parto.

Aí aconteceu o inevitável. Entrando em Campo Mourão (mais ou menos na Cipauto), a mãe começou a falar para o marido que o nenê estava nascendo e que não ia dar tempo de chegar ao hospital. Eu perguntei se tinha certeza, pois ela não demonstrava até então que a hora estava tão próxima, e ela afirmou que não ia dar tempo.

Só estávamos nós três: eu, ela e o marido. Tive que tomar uma decisão rápida e consciente. Chovia muito, mas ali mesmo parei o carro e fiz o parto. Não foi fácil, o cordão umbilical estava enrolado no pescoço da criança, que estava com dificuldade de respirar. Tive que aspirar com a minha boca antes que a criança parasse de respirar.

Graças a Deus e aos conhecimentos adquiridos nos cursos com vocês, tudo deu certo. Mas não foi fácil tomar a decisão correta, pois aquela vida estava em minhas mãos. Em seguida liguei para a Santa Casa e expliquei o que havia acontecido. Quando lá chegamos, já estávamos sendo aguardados. Mãe e filha já tiveram alta e passam bem, graças a Deus.

Queria dividir esta experiência com vocês e mais uma vez dizer o quão importante é, pra mim, ser um socorrista.

Nome: Eliane Hirt Ferreira Muller
Cidade: Curitiba/PR

Meu nome é Eliane, sou Guarda Municipal de Curitiba há 20 anos e há um ano e meio estou na Defesa Civil de Curitiba. Dentre vários serviços que realizo aqui em Curitiba, estão as capacitações em socorros de urgência. No decorrer do ano realizamos várias turmas, sendo que no final de cada turma escutamos vários relatos de atendimentos realizados.

Mas no dia 31 de outubro de 2011 ocorreu algo inusitado. Eu estava no horário de condicionamento físico quando passei por um grupo de pessoas e percebi que este grupo estava bastante agitado. Continuei com minha corrida (pois estava à paisana), mas a curiosidade bateu mais forte e acabei voltando.

Quando cheguei, perguntei o que estava acontecendo. Uma jovem mãe me mostrou seu bebê de um mês e cinco dias, com as vias aéreas obstruídas por leite. Rapidamente peguei o bebê e comecei a realizar a manobra de desobstrução, sendo que logo o bebê voltou a respirar (nunca foi tão bom escutar o choro de um bebê).

Enquanto realizava a manobra, solicitei a ambulância pela minha central de rádio e logo em seguida chegou uma das viaturas de meus colegas de serviço. O bebê foi encaminhado para um hospital e graças a Deus está a salvo. Acredito que muitas vezes Deus nos coloca no local certo e na hora certa.

Nome: Mauro Robson Almeida Xavier
Cidade: Macapá/AP

Trabalhei por mais de 20 anos no governo federal – Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) -, uma carreira estável e segura. Porém meu sonho era atuar na Urgência e Emergência. Foi então que surgiu no Estado em que trabalho, o Amapá, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192). Não pensei duas vezes, pois sabia que precisava dessa adrenalina para sentir-me realizado.

A partir daí, realizei um concurso público para o Estado do Amapá. Sem perder tempo, fui realizando alguns cursos de Atendimento Básico e Avançado de Vida, PHTLS, Suporte Avançado de Emergência ao Trauma (SAET), Aeromédico, etc.

Depois de aprovado e chamado para assumir o cargo de Enfermeiro, usei os meus cursos para atuar no SAMU 192. Que alegria! E de 2007 para cá venho a cada plantão sendo premiado pelas inúmeras vítimas que ajudamos a salvar.

Não é uma coisa a médio e longo prazo, como funcionava na FUNASA, em Saúde Indígena. A resposta do meu trabalho e de minha atuação é imediata: ou você atua de maneira segura e eficiente, ou alguém vai a óbito, pois as nossas vítimas são as mais graves.

Prestando assistência em Unidades de Suporte Avançado (USA), em ambulâncias do tipo UTI Móvel, ambulancha e resgate aéreo em um helicóptero improvisado do Grupo Tático Aéreo da Polícia Civil (GTA), costumo dizer que somos o BOPE do Resgate.

Durante esse tempo, uma das experiências mais interessantes que tive a oportunidade de observar foi a de uma ex-aluna minha, estagiária do Pronto-Socorro, que registrou em foto uma dessas assistências que o SAMU faz, que vai além do Atendimento Pré-Hospitalar (APH) quando, por excesso de vítimas no Hospital de Emergência (HE), continuamos a prestar assistência nas salas de semi-intensivas do HE.

Bem, lá estávamos eu e o também servidor público estadual Paulo Almeida Xavier Júnior, dois irmãos de sangue e profissão: Enfermeiros da Emergência, lutando pela vida de uma vítima de arma de fogo, na região supra-auricular esquerda, calibre 22, à queima-roupa. Uma luta que, do atendimento no local da ocorrência até o óbito no Hospital de Emergência, chegou a quase 50 minutos.

É, infelizmente quando não temos sucesso na estabilização dessas vítimas, elas acabam nas mãos de nosso pai, Dr. Paulo Almeida Xavier, médico-legista do Estado (Politec).

Apesar dos salários defasados, estruturas comprometidas, falta de pessoal, não há recompensa maior em poder salvar vidas. É o que vejo nos olhares de mães e pais, parentes e amigos destas. Parabéns aos que arriscam suas vidas para salvar outras. Uma coisa já aprendi: se Jesus não haverá de salvar a todos, imagine nós!

Nome: Rodrigo de Moraes
Cidade: Mauá/SP

Duro é quando a vida nos prega peças e nos faz socorrer um amigo, ou uma amiga, como é o caso.
Minha homenagem é para o Dr. Laerte Rodrigues Junior, médico intervencionista do SAMU de Mauá, o qual num dia fatídico para todos do SAMU, teve de socorrer nossa saudosa e eterna amiga Patrícia Santiago, 33 anos.
Acometida pela ruptura súbita e sem aviso de um aneurisma cerebral, veio a cair inconsciente dentro da viatura que trabalhava, obrigando nosso amigo Dr. Laerte a prestar o primeiro atendimento.
É difícil você tentar controlar a emoção e raciocinar ao mesmo tempo. Mas o Dr. Laerte assim o fez, até o último segundo. Sendo tomado pela emoção somente após tudo realizado com perfeição e destreza.
Parabéns meu amigo! Tudo você fez para que a vida de nossa querida amiga não se extinguísse, mas Deus assim desejou.
Seus amigos do SAMU de Mauá agradecem.

Nome: Adamir Nivaldo Anguinoni Junior
Cidade: Recife/PE

Estou aqui para agradecer a Deus em primeiro lugar e aos meu colegas, amigos, parceiros e familia SAMU do CABO de Santo Agostinho do plantão de domingo (22 de agosto de 2010). Sabemos o que enfrentamos naquele domingo à noite, fomos chamados para um capotamento: cinco vitimas do veículo e mais um motoqueiro. Chegando ao local vimos o carro de cabeça para baixo dentro da água e duas pessoas tentando tirar vitimas do carro olhei e entrei pra ajudar…eu sabia que não estava sozinho…foi estranho, quase perdi minha vida ao entrar na água, mergulhar no fundo trazer uma vítima colocá-la no acostamento e ver a reação da minha colega condutora Ana em dizer “parceiro é minha prima” com olhos e palavras trêmulas, na hora em que iria abraçá-la gritam : “Samu tem mais dois aqui no carro”,dei as costas e voltei. Tiramos mais um e não acabava ali, meus amigos soprando e massageando eu mergulhando mais uma vez, tinha uma vitima presa no cinto era o motorista, subi e pedi uma faca: tinha uma vida em minha mão, desci denovo e quase não retorno, meu macacão ficou preso nas ferragens, naquele momento…só eu e Deus, acho que foi possível ouvir Ele me dizendo “Tem calma meu filho não irei te abandonar”, então consegui me soltar, soltei a vitima e subi. Meus amigos estavam com os olhos arregalados na preocupação me perguntando se estava bem e eu preocupado com as vitimas…tanto trabalho mais sem o resultado esperado…estavam todos mortos e me perguntei porque? Fomos tão rápidos, agimos como raios em noite de tempestade. Não encontro explicação, apenas agradeço a Deus por me deixar vivo para que um dia eu tente encontrar a resposta e que eu e minha maravilhosa Equipe possamos salvar vidas enquanto formos acionados. Obrigado: Dra. Carla, Enf. Márcia, Tec. Anderson, Geovany, Luciano, Condutores Jalvan, Jocsá, Adailton, Baracho e Ana, sei que não me deixariam morrer e sei também que sabiam que eu não deixaria as vitimas naquelas condições e que somos: Bom no Bom e Bom no Ruim! Até a próxima ocorrência, pois estaremos prontos pra mostrar que é na hora da morte que mostramos a arte de salvar vidas, pois é assim que o SAMU do CABO trabalha.

Nome: Renato Neves Motta
Cidade: Rio de Janeiro/RJ

Um Dia na Vida de um Bombeiro Combatente no Rio de Janeiro

– Bom dia, bombeiro!
– Bom dia, dona Marlene!
Embora não estivesse fardado, era assim que o sargento Neves era conhecido na vizinhança, desde que entrara na Corporação, há mais de dez anos. Era um homem querido pelos amigos e vizinhos, já que não negava ajuda a ninguém, mesmo em seus raros momentos de folga. Aquele era mais um dia de serviço para o bravo combatente do fogo. Acordou cedo, tomou um cafezinho, se aprontou e partiu para o quartel de Ramos, onde servia à população desde recruta.
Chegou à unidade às 06h20min e logo colocou o uniforme de educação física, juntando-se aos companheiros para jogar aquele futebol. Após a atividade, tomou banho e colocou a farda de brim cáqui impecável, limpa e arrumada com cuidado, de que tanto se orgulhava. Ao ingressar na Corporação, realizou um sonho de infância, já que desde moleque queria ser bombeiro.
Às 8 horas, assumiu o serviço como chefe de guarnição da viatura de busca e salvamento. Enquanto testava os materiais com o restante da equipe, ouviu o brado da campainha e rapidamente se deslocaram para um evento de corte de árvore, já que a mesma caiu pela ação dos ventos da madrugada e impedia a passagem de carros na Estrada do Itararé, uma das vias principais do bairro. Trabalho perigoso é esse o de cortar árvore, de vez em quando um bombeiro cai ou é atingido pela motoserra, causando-lhe lesões graves.
Regressou ao quartel às 11h30min, foi direto para o rancho e colocou o almoço no prato. Não deu tempo de fazer a refeição direito, pois logo o sargento foi chamado à Seção de Comunicação do quartel para confirmar um aviso de salvamento de pessoa. Era um menino de oito anos que jogando futebol com os amigos em uma obra do PAC, teve sua perna transfixada por um vergalhão. Tarefa fácil, mas comovente. O menino chorando, aflito, enquanto o cabo Lopes Xavier, “bombeirão”, cortava o ferro. Missão cumprida! Após fazer um pequeno curativo, era só colocá-lo na ambulância e mandá-lo para o Hospital Getúlio Vargas.
Minutos mais tarde, com a sirene desligada, enquanto regressava ao quartel, recebeu pelo rádio um aviso para retirar um gato que estava em cima de uma árvore, em Inhaúma. A dona do felino não conseguia alcançá-lo. “Isso era mole!”, pensou. O sargento Neves ordenou que o soldado Leça colocasse a escada e retirasse o animal. É claro que sempre há o risco do animal ferir seu salvador, mas com paciência tudo se consegue. Tudo certo, gato entregue a dona que agradeceu e disse que era por essas e outras que o Corpo de Bombeiros era uma Instituição em que todos podiam contar.
De volta à unidade, tomou um café da tarde reforçado, já que não teve tempo de almoçar. Mal acabou, sem que ao menos desse tempo de escovar os dentes, escutou-se um brado geral, ordenando que todas as viaturas se deslocassem para a Rua Uranos, perto do Motel Alphaville. Havia comunicação de um evento de colisão de veículos. Na chegada ao local descrito pelo solicitante, nada de acidente, era mais um trote. “Que sacanagem, falta do que fazer!” exclamou o sargento.
Mas a viagem não foi de toda perdida, pois durante o regresso, foi dado um aviso pelo rádio da viatura: era um casal preso no elevador, em Bonsucesso. Mesmo com o trânsito ruim, a viatura conduzida pelo cabo Homem, em menos de cinco minutos, chegou ao prédio e retirou os namorados que, assustados, nem ao menos agradecem pelo feito. “Caramba, não são nem quatro horas da tarde e já é a quinta corrida do dia”.
Às 6 horas da tarde, mais um brado: dessa vez era um incêndio em uma loja de R$ 1, 99, em Bonsucesso. Após se equiparem, juntamente com a guarnição da viatura que possui um reservatório de água, comandada pelo subtenente Barreto, partiram para debelar as chamas. De cima do viaduto, já se via a fumaça preta, parecia ser sério. E era. O fogo consumia a loja e ameaçava o comércio vizinho. Adrenalina total! Linhas armadas no combate ao incêndio, que insistia em se alastrar. As labaredas, vistas de longe, tinham de ser vencidas. Jatos de água pela ação dos esguichos nas paredes superaquecidas, causavam rachaduras nas lajes e vigas, ameaçando desabar a qualquer instante. As chamas apavorantes, ora diminuíam, ora aumentavam. O calor insuportável encharcava de suor a roupa desses bravos homens, porém, não tirava-lhes o ânimo.
Aquelas guarnições de bombeiros eram experientes, nem precisaram de auxílio de outros quartéis, avançavam com seus esguichos em direção às chamas devoradoras, com técnica e coragem, sem se importar com o perigo e atentos ao lema da Corporação “vidas alheias e riquezas salvar”. No final, fogo extinto e aplausos dos transeuntes que assistiam à cena, na Praça das Nações. Se as pessoas dizem que o homem de bom senso deve afastar-se do perigo, os bombeiros fazem justamente o contrário: é para lá que ele vai, parecendo desconhecer o limite entre a vida e a morte.
No quartel, pausa para o jantar. Mesmo sujo do incêndio, Neves quis garantir logo a refeição, para não correr o risco de acontecer o que aconteceu no almoço. Fez a escolha certa. Mal engoliu a comida e outro evento, não deu tempo nem para o banho. Ainda com a farda suja, atendeu a uma chamada para uma queda de moto, na Rua Canitá, em Inhaúma. Dois suspeitos fugindo da polícia, na Estrada Velha da Pavuna, entraram na rua que dá acesso ao Morro da Grota, em alta velocidade e caíram. O carona, sem capacete, morreu na hora, o outro foi levado cheio de fraturas para o hospital. Em volta da cena, bandidos armados de fuzis assistiam ao atendimento feito pelos bombeiros, que não tinham problemas em atuar nas comunidades, já que bombeiro tem “acesso livre” para atender nessas localidades.
Silêncio geral no retorno. Independentemente de ser uma marginal, era uma vida e perdê-la é uma derrota sem fim para os bombeiros.
“Agora sim, vou tomar um banho!”, pensou o sargento, ao chegar ao quartel. Que nada, estava enganado: brado para retirar um cachorro dentro de um rio no interior de um quartel da Marinha, na Avenida Brasil. “Caramba, será que não tem um marinheiro para retirar o bendito animal de lá?” Não, não tinha. Era mais uma missão a cumprir. Também foi fácil, o soldado Leça, mesmo reclamando de se sujar ainda mais, colocou a escada e salvou o bicho que, este sim, parecia agradecido.
Já passavam das 23 horas e de banho tomado, o sargento preparava-se para dormir. Lembrou-se de que não ligara para casa para falar com a esposa, tamanha era a correria do dia. Dormir? Neste serviço não ia dar. “Atenção, quartel, viaturas a postos para evento de colisão de veículos, Avenida Brasil, pista central de descida, próximo ao piscinão de Ramos, com brevidade, vítima presa às ferragens”.
Em menos de um minuto, as viaturas já se deslocavam para o local. A cena era um terror: uma Kombi lotada colidiu em um veículo de passeio. Na Kombi, além de outros feridos, mãe de trinta anos e uma criança, de apenas cinco, morreram na hora, não deu para salvar. Já o motorista da Kombi, depois de mais uma hora de trabalho, foi retirado das ferragens e levado pelo helicóptero da Corporação para o hospital, com suspeita de fratura no fêmur. No carro de passeio envolvido no acidente, o motorista, vindo da feira dos paraíbas, com sinais de embriaguez, nada de sério sofreu. “É a vida, o cara bebe, pega o carro e tira a vida de dois inocentes”, comentou Neves, consternado.
De regresso, mais um silêncio perturbador. A guarnição sequer comentava a ocorrência. Que estaria acontecendo com aqueles homens acostumados às cenas mais chocantes? Dessa vez não era bandido, era uma mãe jovem e uma criança, cada um parecia sentir dentro de si o desespero da família. No silêncio de cada um, repassava a imagem do próprio filho. E criança morta ou ferida mexe com qualquer um, mesmo um sargento com anos de experiência fica abalado. O soldado Leça, coitado, com apenas dois anos de serviço, se esforçava para não chorar e perguntou: “que triste, sargento, o senhor não achou?” Não houve resposta.
Às 2 da manhã, enfim, Neves foi cochilar e acordou às 6 horas. Antes de folgar, porém, mais uma chamada para retirar uma pessoa com transtornos mentais, que insistia em atravessar, pelado, a Avenida Itaóca, no meio dos carros. Após ser contido pelos bombeiros, o mesmo foi encaminhado ao Pam de Del Castilho.
Era a décima corrida do plantão, por ora estava bom. Cansado, mas satisfeito e orgulhoso com o serviço prestado, com a farda suja de cinzas e sangue, o sargento foi direto para casa descansar, já que, pelo menos, naquele dia, não precisava encarar o “bico”.

 

 

 

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