domingo, 15 de junho de 2025

Emergências químicas industriais requerem preparação tanto dos órgãos públicos quanto privados


Heleno Clemente Photoequestre/Suatrans Cotec
Data: 10/07/2015 / Fonte: Lia Nara Bau

Não é mais com total estranhamento que vemos notícias de acidentes com produtos químicos em indústrias brasileiras. Seguidamente, são noticiados pela mídia e trazem à tona a preocupação sobre a realidade da preparação das indústrias para este tipo de ocorrência. O especialista em Saúde e Segurança do Trabalho e em Gestão de Emergências e Desastres, Marco Aurélio Rocha, lembra que a frequência destas ocorrências nos últimos anos tem sido incrementada significativamente como resultado da proliferação de processos industriais, desenvolvimentos tecnológicos, novas fontes de energia, produtos combustíveis e a alta concentração populacional em centros urbanos. Por isto, é cada vez mais latente a necessidade de uma preparação por parte das indústrias.

Para o químico Edson Haddad especialista em Emergências Químicas, as indústrias, em sua maioria, estão preparadas para responderem emergências de pequena complexidade. “Emergências de média e alta complexidade exigirão a atuação de outras instituições, tanto públicas como privadas”. O coronel João Vanderley Costa Pereira, consultor técnico da Resgatécnica, concorda que as empresas brasileiras estão preparadas para pequenos vazamentos. No entanto, os grandes vazamentos que têm surgido estão trazendo prejuízos irreparáveis a pessoas e, principalmente, ao meio ambiente.

O gerente regional da Alpina Briggs, técnico em Química e que atua há 15 anos em emergências ambientais com produtos perigosos, Luís Paulo Ascoli Barletta, diz que há indústrias e profissionais bem preparados.

Recentemente, houve o incêndio na Alemoa (na empresa Ultracargo, em Santos/SP), no qual estive envolvido desde o início acompanhando as ações empregadas. Transformar a teoria na prática foi o maior desafio em um ambiente com mais de 800ºC, e digo que todos os envolvidos estavam preparados e aplicaram técnicas com resultado, pelo tempo que durou e pela quantidade de inflamáveis envolvidos, foi exemplo de atuação consciente e de integração dos Planos de Auxílio Mútuo da região”, ressalta.

Rocha comenta que há realidades bem distintas, ou seja, de um lado, temos empresas bem preparadas, com recursos humanos especializados e em constante aprimoramento. Por outro, há empresas que produzem, manipulam, armazenam e transportam produtos perigosos, com evidente despreparo, tanto em recursos humanos, quanto em capacitação e em material. “Há empresas que não sabem nem os riscos existentes em seus processos produtivos”, lamenta. Haddad enfatiza que as indústrias devem ter um plano de ação de emergência bem elaborado, no qual todos os possíveis cenários de acidentes devem ser mencionados. “Um bom plano é precedido por um adequado estudo de análise e avaliação de riscos, momento em que a empresa poderá identificar todos os possíveis cenários de acidentes. Com tal informação, será bem mais fácil dimensionar os recursos humanos e materiais necessários para responder de forma adequada a cada situação adversa. O problema começa nos estudos de análise de risco. Poucas empresas realizaram estes estudos de forma adequada e não identificam todos os possíveis cenários de acidentes na sua instalação”, lamenta.

Na opinião do diretor comercial da Interfiltros, Alexandre Gomes Bruno, as empresas brasileiras de grande porte estão bastante alinhadas com as melhores práticas ambientais internacionais, até por força de normas como a ISO 14000 e 18000, exigidas por suas matrizes no exterior, ou mesmo por seus principais clientes. “Mas há todo um universo de indústrias que atuam armazenando e manipulando produtos químicos potencialmente agressivos sem a devida precaução a acidentes. Também há certa fragilidade ainda no transporte destes produtos, o que se agrava ainda mais no Brasil, tendo em vista a natureza do transporte destas cargas – em sua maior parte rodoviária”, lamenta. Para o diretor operacional da WGRA, José Lucio da Silva, na última década, tivemos melhoras significativas nas ações preventivas, de capacitação e de sistemas de resposta às emergências químicas, quer sejam motivadas por imposições legais mais criteriosas e com maior teor técnico, ou ainda pelo aumento da fiscalização por parte dos órgãos de meio ambiente. No entanto, ele observa a necessidade de maior interação entre órgãos públicos e da iniciativa privada. “Portanto, se considerarmos que a estrutura de resposta a uma emergência é embasada no trabalho de equipes multidisciplinares, podemos afirmar que seguramente tanto as indústrias quanto os municípios, estados ou federação ainda não estão devidamente preparados, mas felizmente podemos perceber uma luz no final do túnel, como foi o caso do P2R2 (Plano Nacional de Prevenção, Preparação e Resposta a Emergências Ambientais com Produtos Químicos Perigosos)”, cita.

Confira a reportagem completa na edição de julho da Revista Emergência.

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